Mário Reis destrona Frédson Paixão com um belo triângulo na final do Mundial 2003
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MMA Sul - Quantas vitórias você tem na carreira?
Mário Reis – Nunca parei pra contar. Nem saberia dizer o número de campeonatos que já lutei. Eu venho de uma escola onde fui ensinado que quanto mais campeonatos competisse mais iria me engrandecer como lutador.
MMA Sul – Quais foram suas conquistas em campeonatos mundiais?
MR – Tenho 13 medalhas de campeonatos mundiais. Sete vezes fui campeão (seis na faixa-preta), quatro vezes vice e duas vezes terceiro.
MMA Sul – Gostaria de comentar alguma de suas lutas? Qual considera o título mais importante?
MR – A vitória que me deu consagração e fez meu nome aparecer na mídia foi sobre o Frédson Paixão, em 2003. Foi meu primeiro campeonato na faixa-preta. Entrei como estreante e acabei tirando a invencibilidade do Frédson, que nunca havia perdido e há dois anos era o campeão da minha categoria. Consegui finalizar ele com um triângulo e depois ainda fazer a final contra Alexandre Soca, atleta renomado no Jiu Jitsu.
MMA Sul – Quais foram as equipes que você já representou?
MR – Braziliam Top Team (BTT), a Behring e agora a Gracie Barra. As duas razões por que saí das equipes anteriores foram iguais. Os dois mestres moravam no Rio de Janeiro e não tinham como me dar suporte nos treinamentos, pois moro em Porto Alegre. Então resolvi ir para Gracie, equipe que sempre tive vontade de representar, sempre tive em mente que é a melhor equipe do mundo e onde existe uma técnica muito refinada. Busquei a Gracie para evoluir mais ainda como lutador, porque sempre por trás de um bom lutador tem que ter uma grande equipe. Prezo muito o inventor do Jiu Jitsu, Carlos Gracie.
MMA Sul – Como foi sua trajetória até à faixa-preta? Quem graduou você?
MR – Até à faixa-roxa fui graduado pelo mestre Zé Mário Sperry, excelente lutador, com quem aprendi coisas que uso até hoje na minha vida. Aprendi com ele disciplina de atleta. Zé Mário colocou na minha cabeça coisas que seriam fundamentais para me tornar um atleta de alto nível. Da faixa-roxa até a preta foi o mestre Sylvio Behring quem me graduou. Já com ele, aprendi conceitos que foram importantes pra vida, como me tornar um bom professor, coisas que me engrandecem como pessoa.
MMA Sul – Antes de acabar o Pride, você disse em entrevista que havia sido convidado duas vezes pra lutar no evento, mas achou que não era a hora. O que diria sobre o MMA no momento? Você está treinando outra modalidade?
MR – Não estou treinando outra modalidade. Gosto muito do MMA, mas não passa de uma admiração. Aliás, foi devido ao MMA que entrei no Jiu Jitsu, por causa do Royce Gracie. Inclusive meu grande amigo e companheiro de treino Fabrício Werdum luta MMA e eu acompanho a carreira dele, é um cara que me dá muita força. Resolvi não ir para o MMA porque quero fazer história no Jiu Jitsu, mais do que já fiz, e lutar também submission.
MMA Sul – Você costuma estudar o jogo dos seus adversários antes de enfrentá-los?
MR – Acho que estudar é importante. Mas se eu disser que já estudei algum adversário não irei falar a verdade. Na minha concepção numa luta de faixa-preta ganha quem é o melhor. Não será porque o cara estudou meu jogo que ele irá me ganhar. Existem raras exceções, ganhar mesmo não sendo melhor que o outro. Mesmo sabendo qual o golpe, não significa que consiga evitar. Meus adversários sempre estiveram cientes que meu golpe é o triângulo, golpe que eu finalizo constantemente até hoje nos campeonatos e com certeza já fui estudado.
MMA Sul – Quais são seus objetivos no Jiu Jitsu ainda?
MR – Meu objetivo é ser o atleta com o maior número de títulos mundiais. Tenho seis títulos mundias na categoria adulto e gostaria de chegar... sei lá, não tem limite, até onde meu corpo agüentar.
MMA Sul – Qual seu histórico de lutas em 2008?
MR – Iniciei ficando em terceiro no mundial, numa derrota que não achei justa, mas também não quero comentar, não gosto de pessoas que ficam inventando desculpa depois que perdem, então não irei cometer tal erro. Um mês depois fui Campeão Mundial pela CBJJE. Fui Campeão Mundial no Internacional Rio Open de Jiu Jitsu, evento da CBJJ. E também me sagrei campeão no Arena de Búzius, onde ganhei uma premiação boa em dinheiro, de mil dólares.
MMA Sul – Como você faz sua preparação?
MR – Faço um trabalho de preparação física durante a manhã na água, faço exercícios com aparelhos de ferro, faço yoga, faço pilates e Jiu Jitsu.
MMA Sul – Você pretende se manter na categoria pena?
MR – Sempre lutei na categoria pena. Somente uma vez competi na categoria leve e fui Vice-Campeão Mundial, em 2006. Mas nunca cheguei ao topo dessa categoria. Lutei de leve para ver como iria me sair. Mas quero continuar no peso pena (até 70 kg), porque é a categoria que me sinto mais forte e melhor. Não preciso fazer tanto sacrifício pra ficar de leve. Não posso dizer que é fácil, perco dois ou três quilos antes das competições.
MMA Sul – O que você faz para se concentrar antes das lutas? Há algum ritual?
MR – Não posso chamar de ritual. Antes de lutar eu gosto de conversar comigo mesmo. Eu mesmo ser o meu personal trainer. É igual a quando você vai "fazer um ferro", e tem aquele cara que diz vai, vamos lá, isso, não pára, levanta, eu faço a mesma coisa, eu conversando comigo mesmo, para me auto-incentivar, pra me colocar pra cima e chegar na luta e fazer o meu melhor.
MMA Sul – Seu estilo de luta é agressivo. Você disse uma vez que “a melhor defesa é o ataque”. Essa sua busca pela finalização é inspiração Gracie ou é algo seu?
MR – É algo que vem desde a faixa-branca. Eu tinha dificuldades para pontuar até chegar na faixa-azul, inclusive fui campeão mundial na azul. Não sabia fazer pontos. O professor Zé Mário sempre dizia pra eu buscar variações pra fazer pontos. Eu tinha tanta dificuldades que consegui adaptar a finalização no meu jogo de uma maneira que ela ficou mais simples que fazer pontos.
MMA Sul – As suas viagens ao exterior são somente para lutar ou você exerce outras atividades?
MR – Em 2003 fiz minha primeira viagem, proporcionada por Fabrício Werdum. Ele que me apresentou para o mundo, me levando para Espanha e Holanda. Nesse ano comecei minha trajetória de seminários. Viajo de quatro a seis vezes por ano. Já fui para o Japão, para o Caribe, mas os lugares onde eu mais vou é a Europa e os EUA.
MMA Sul – Rubens Charles “Cobrinha” e Bruno Frazato, o que você pode comentar sobre esses atletas?
MR – O Cobrinha é um excelente atleta e tem uma característica parecida com a minha que é o jogo de finalização. O Frazato não é tão finalizador quanto eu e o Cobrinha, mas é um atleta muito estrategista, muito bom, compete muito bem. Os campeonatos que participamos todos, sempre dava eu e o Cobrinha nas finais. A única vez que houve uma final entre eu e o Frazato foi numa luta polêmica que deram a vitória pra ele, mas na minha opinião e na do público em geral a vitória foi minha. O Cobrinha é o homem a ser batido no memento. Já fiz duas lutas contra ele. A primeira acabou empatada e deram pra ele. Também não achei justa. E a segunda ele me ganhou, foi incontestável.
MMA Sul – Tem alguém que você gostaria de enfrentar? Será que a final do Mundial 2009 dará você contra o Cobrinha?
MR – Eu levo muita fé em mim, senão nem entro numa competição. Acredito que eu vou estar na final em 2009 e acredito que vou ser campeão. Provavelmente será contra o Cobrinha. Se bem que o Frazato tem lutado de igual pra igual com o Cobrinha, está estudando cada vez mais o jogo dele. Mas mesmo assim acho que será eu contra o Cobrinha.
MMA Sul – Qual o seu foco no momento?
MR – Meu foco é todo em cima do Asian Cup de Submission, que será dia dois de novembro, aqui em Porto Alegre. Esse evento será muito importante pra minha carreira e vale como seletiva para o Abu Dhabi.
MMA Sul – Como está o cenário de incentivo cultural ao Jiu Jitsu? É difícil conseguir patrocínios?
MR – Eu nunca fui atrás de patrocínio em toda minha vida. Muita gente me apoiou ao longo da minha carreira. Os patrocínios que eu ganho tem grande parcela nas minhas conquistas. Não é uma coisa fácil no Brasil, mas no momento não tenho o que reclamar. Com certeza é sempre bem vindo. Não é comum como o esporte olímpico, mas já dá uma força para o atleta.
MMA Sul – Que mensagem você deixaria para aqueles que estão começando no Jiu Jitsu e que se inspiram em campeões como você, como o Xande Ribeiro, como Roger Gracie?
MR – O Jiu Jitsu só vai correr nas nossas veias, de maneira que a gente se sinta feliz, e recebendo o que viemos buscar nessa arte, quando a gente faz ela com muito amor e muita, muita dedicação. E quando a gente abdica de tudo que a gente gosta praticamente, pra conseguir chegar onde a gente quer. Pra quem quer ter uma carreira vitoriosa no Jiu Jitsu, precisa fazer essa troca, abdicar para receber. É muita dedicação!
MMA Sul – Quem você gostaria de agradecer?
MR- Quero agradecer a todas as pessoas que gastaram o suor rolando comigo, não só rolando, mas me ajudando a ser o Mário Reis que eu sou. Agradecer a minha família, aos meus amigos, aos meu alunos. Agradecer a todos que me apóiam e acreditam no meu jiu jitsu, que admiram a minha pessoa e o lutador que eu sou, porque eu me esforço pra ser cada vez melhor e servir de exemplo para muitos, ser exemplo de alguém que se superou na vida, venceu com muito sacrifício. Nunca fui de família rica, também não posso dizer que passei fome, mas sou um cara muito guerreiro e batalhador, esse é o meu recado.